11 “Não se trata de um cenário alarmante, mas também não é possível afirmar que está tudo sob controle” Locação: Quais os possíveis impactos desse novo tarifário dos EUA na indústria automotiva? Constantin Jancsó: Resumidamente, setores específicos, como o da indústria automotiva, enfrentarão alíquotas de importação ainda mais elevadas nos Estados Unidos, onde o chamado tarifaço tende a ser inflacionário, elevando por lá os custos e preços, sobretudo no setor automotivo. Do lado mexicano, por exemplo, a dependência do mercado americano como principal destino de exportação levanta a possibilidade de redirecionamento da produção para o Brasil, dada a existência de um acordo de livre-comércio que temos com aquele país. Locação: Como essa dinâmica internacional pode afetar o custo do dinheiro, as taxas de juros, enfim, as condições para a obtenção de crédito? Constantin Jancsó: Antes do anúncio das tarifas, o Banco Central brasileiro estava em um ciclo de alta de juros, com expectativa de pelo menos outras duas elevações adicionais de 0,50 ponto percentual. A ideia era manter os juros em torno de 15,5% por um período prolongado, para então iniciar um ciclo de cortes no final do ano. Com o novo cenário, e considerando o efeito desinflacionário potencial do tarifaço para o Brasil, essa trajetória pode mudar. A expectativa agora é de uma única alta adicional de 0,50 ponto percentual. Em outras palavras, as tarifas americanas ajudam a conter a inflação no Brasil, o que pode fazer com que o Banco Central suba menos os juros do que se imaginava anteriormente. Locação: É possível dizer que o Brasil será um dos países menos afetados pelo “tarifaço”? Constantin Jancsó: Não se trata de um cenário alarmante, mas também não é possível afirmar que está tudo sob controle. O momento exige atenção, cautela e monitoramento constante. O aumento de barreiras comerciais tende a enfraquecer o crescimento do comércio global, o que reduz a atividade econômica mundial como um todo. Dificilmente o Brasil ficará imune a esse impacto. É fundamental equilibrar a análise dos efeitos diretos sobre a cadeia automotiva com os efeitos mais amplos de um crescimento global muito mais lento.
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