Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

138 O desafio do nosso tempo P ara todo mundo que tem menos de 90 anos – ou seja, a esmagadora maioria da população do planeta – não haverá crise igual. Ela ataca ri- cos e pobres, muito mais os pobres; jovens e velhos, e estará para sempre marcada como uma das maio - res tragédias da história da humanidade. Ao mesmo tempo em que o vírus gera sintomas, ele é também um sintoma da nossa época, chegando para mostrar em escala global nossos dese - quilíbrios e debilidades como sociedade – mas, também, um grande senso de conexão e solidariedade. Como pano de fundo, a tecnologia surge como propulsora de um alto nível de velocidade, complexidade e imprevisibilida- de. Ela deu uma escala sem precedentes a tudo o que temos experimentado. Mas a tecnologia tornou-se, também, o último abri- go para todos aqueles que possuem condições de um refúgio no home office – seja ele um canto aper- tado do apartamento, ao lado do  significant other  e do cachorro; ou mesmo um espaço mais sofisticado, com internet rápida, teleconferência e dezenas de serviços de delivery . Sim, somos pri- vilegiados, pois grande parte da população brasilei - ra sequer pode es - colher: ou são em - preendedores que ganham o dia a dia nas ruas e na infor - malidade, ou profis- sionais de serviços essenciais e de saú- de. Ambos merecem o nosso reconheci - mento e respeito. Como profissionais de comunicação, no entanto, precisa- mos acreditar que existem boas histórias a serem contadas, mesmo em tempos muito estranhos e, até certo ponto, inimagináveis como agora. Tudo ainda está para ser escrito, reescrito e ana- lisado, por décadas a fio. Mas nós, comunicadores, trabalhando em veículos ou agências, temos a res- ponsabilidade de identificar e escrever sobre as nar - rativas que têm marcado esse tempo. E já! Elas nem sempre são positivas, pelo contrário: muitas se pau- tam de maneira terrivelmente triste. Mas foi o ofício que escolhemos: o de planejar, identificar, apurar e construir uma história, de construir sinergia interna entre diversos públicos, de energizar audiências.  O lado que ocupamos no balcão é menos importante nesse momento, pois poucas são as matérias que chegam à mídia sem o apoio de uma boa agên- cia de relações públicas. Nosso talento – o das agências – está muito mais voltado para a construção de narrativas e à oferta de fontes capacitadas, deixando para os profissionais dos veículos o talento de informar, de “manchetar”, e de fazer história a partir de causos e causas. As agências de comunicação nunca foram tão essenciais. Ao longo dos últimos anos, construímos times multidisciplinares, especializados no negócio de cada cliente, seja uma corporação multinacional, seja uma entidade sem fins lucrativos, ou mesmo um profis - sional ou um empre - endedor em início de carreira. Não se constrói uma boa pauta sem uma boa agência de comuni- cação. Acredito, mes- mo, que o maior legado que deixare- mos – como agên- cias de comunica - ção – é gostar dos bastidores, sempre de maneira ética, para que nossos clientes possam assumir o protagonismo de dar vi - sibilidade e relevância às suas histórias perante a so - ciedade. Fazer tudo isso com o apoio de dados, com análise, pensamento crítico e especialistas é um de- safio à altura do nosso tempo. Zé Schiavoni Jornalista, empreendedor, ex-presidente da Abracom e CEO da Weber Shandwick Brasil

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