Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 11 ACOP30, programada para ocorrer em Belém, no Pará, representa muito mais do que um fórum técnico para negociações climáticas − ela se apresenta como a possibilidade de ser um ponto de inflexão para o reposicionamento do Brasil e da Amazônia no centro do debate climático global. Assim como a Rio 92 projetou o País como protagonista na construção de uma agenda ambiental multilateral, a COP30 tem potencial para redefinir o papel da comunicação na governança climática do século XXI. Mas, para que essa oportunidade se traduza em legado duradouro, é imprescindível reconhecer a comunicação como vetor estratégico de transformação − e não apenas uma ferramenta de suporte. Essa perspectiva está no cerne da Carta Aberje para Comunicadores, que propõe diretrizes práticas e éticas para a atuação de profissionais de comunicação antes, durante e depois da conferência. Mais do que uma convocação à ação, o documento estabelece um compromisso com a verdade, a ciência e a pluralidade de vozes, sobretudo da Amazônia. A Aberje defende que a comunicação precisa ser clara, acessível e orientada para a ação, mas também alerta para a necessidade de proteger o debate público da desinformação e da manipulação que ameaçam a agenda climática. Não se trata apenas de comunicar para informar. Trata-se de comunicar para engajar, mobilizar, fiscalizar − e, acima de tudo, transformar. Sob uma perspectiva econômica, a COP30 será também uma arena de disputa simbólica e reputacional. A narrativa da transição ecológica será construção coletiva entre países, setores produtivos e corporações. E, nesse cenário, a comunicação será decisiva na alocação de confiança, legitimidade e recursos. Essa consciência não é nova. Já em 2007, no documento A comunicação organizacional frente ao seu tempo, a Aberje apontava a emergência de um novo papel social do comunicador diante de desafios globais como a desigualdade e a crise ambiental. Como se lê no texto: “O aquecimento global, para gerar uma catástrofe, precisa do contrário da guerra nuclear: que não se faça nada”. A omissão, nesse caso, é também uma forma de ação − e os comunicadores não podem se furtar à responsabilidade de agir com consciência histórica, articulando ética, técnica e narrativa. É nesse sentido que a comunicação se torna também um instrumento de governança. Como mediadora entre a ciência e a sociedade, entre decisões técnicas e sentimentos coletivos, entre o agora e o futuro, a comunicação deve construir pontes e abrir caminhos para novos pactos sociais. Pactos que não se firmam apenas com metas e métricas, mas com histórias compartilhadas, afetos coletivos e compromissos públicos que resistam ao tempo. A centralidade da Amazônia na COP30 impõe um dever adicional: reconhecer, valorizar e amplificar os saberes locais. Isso não é apenas uma demanda de justiça simbólica; é uma exigência estratégica. Sem a escuta ativa e a participação das populações da região qualquer narrativa ambiental corre o risco de soar colonizadora ou instrumentalizada. A COP30 será lembrada por sua capacidade de gerar compromissos? Talvez. Mas esperamos que seja lembrada também pela emergência de uma nova cultura comunicacional: mais comprometida, mais plural, mais conectada às urgências do tempo presente. Para isso, os comunicadores precisarão assumir o papel que lhes cabe: não o de espectadores do futuro, mas o de cocriadores de realidades possíveis. Que a comunicação, enfim, não seja apenas o meio, mas a mensagem de uma nova era. Paulo Nassar, diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) Hamilton dos Santos, diretor-executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)
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