Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025

Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 249 “Nada a declarar!” A expressão célebre, usada durante várias décadas por lideranças empresariais para manter neutralidade diante de controvérsias e evitar conflitos, começou a perder força no final dos anos 1980 e início dos 90, na esteira do processo de redemocratização do Brasil. Entendendo a necessidade de cada vez mais comunicar com transparência, para interagir com todos os públicos, inclusive governos, construindo reputação e ganhando credibilidade para buscar acordos geradores de políticas públicas feitas sob medida para alavancar negócios e beneficiar o consumidor, gerando fidelização, as empresas começam a adotar um conjunto mais amplo de estratégias que incluem o lobby, além de outras ações voltadas para a gestão da imagem, monitoramento legislativo e a construção de um relacionamento duradouro com o poder público. “Quanto mais luz e mais ética, mais eu afasto as trevas”, afirma Carlos Parente, sócio-diretor da Midfield Consultoria e coordenador do curso avançado de relações governamentais da Escola Aberje de Comunicação, da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), falando sobre a evolução do mercado de relações institucionais e governamentais (RIG) no Brasil, que acompanhou as transformações sociais, políticas e tecnológicas. A trajetória, que vai do lobby pontual ao advocacy integrado, reflete a necessidade de uma atuação mais estratégica e ética na defesa de interesses, contribuindo para a formulação de políticas públicas que promovam o desenvolvimento econômico e social, sempre em consonância com os princípios da transparência e da responsabilidade. “Nos anos 1980, quando se passa a ter relações sindicais mais fortes, a figura do comunicador começa a aparecer, porque a empresa não vai mais só falar de relações trabalhistas, ela vai começar a ter de discutir questões mais complexas”, afirma Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Ele lembra do início da política de portas abertas, que empresas como a Rhodia começaram a praticar naquela época. “A Rhodia tinha um grande passivo ambiental na área de Cubatão. Então, uma empresa francesa, multinacional, traz uma pauta mais ampla, entendendo que não se pode mais negociar questões ligadas a uma nova fábrica, ao mundo do trabalho, entre quatro paredes”, recorda Nassar. É nesse momento de transição que a comunicação organizacional começa a enxergar a necessidade de evoluir do lobby tradicional para um conjunto de práticas, competências e iniciativas regulatórias que vão compor a área nascente de relações institucionais e governamentais, hoje liderada pelo chief political officer (CPO), uma nova nomenclatura que reflete a visão transversal que o profissional de RIG precisa ter do negócio. “Uma nomenclatura forte, para ocupar território”, define Luiz Ricardo de Medeiros Santiago, CPO da Volkswagen Brasil, talvez o primeiro profissional da área a adotar esse título no Brasil. Por Nelson Silveira *

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