Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 252 RELACIONAMENTO ESTRATÉGICO bora frequentemente associada a uma imagem negativa, em razão da proximidade com práticas de tráfico de influência e corrupção. Nesse período, a ausência de uma regulamentação clara e a falta de uma cultura de transparência contribuíam para que a atividade se desenvolvesse em ambientes marcados por informalidades e pela dependência de relações pessoais. O lobby era, em sua essência, um exercício de representação dos interesses privados, mas sem as salvaguardas éticas e institucionais que viriam a ser demandadas posteriormente. Com o passar do tempo e o amadurecimento do ambiente político e econômico brasileiro, surgiu a necessidade de uma abordagem mais abrangente e institucionalizada na defesa dos interesses. Nesse cenário, o conceito de advocacy ganhou espaço. Diferentemente do lobby tradicional, o advocacy propõe uma atuação que vai além do contato direto com decisores – ele incorpora a mobilização da sociedade, a produção e disseminação de informações e dados, e o engajamento com múltiplos atores, desde a academia até a mídia. Essa transição reflete a evolução das demandas sociais e do ambiente regulatório. Enquanto o lobby se concentra na influência direta e pontual de decisões legislativas, o advocacy envolve a construção de campanhas de conscientização, a elaboração de narrativas que fundamentam a defesa de políticas públicas e a criação de alianças com diversos setores da sociedade. Assim, o advocacy se configura como um processo contínuo e integrado, no qual a defesa de interesses privados se alia à promoção de debates públicos e à busca por uma agenda política que favoreça o ambiente de negócios e o desenvolvimento econômico. Para Carlos Parente, da Midfield, o fato de operarmos em um ambiente regulado torna a representação legítima e cada vez é maior o número de entidades atuando na defesa de interesses específicos: “Com a temática política ampliando os debates, a área de RIG teve sua relevância aumentada. Para pavimentar a relação público-privada, houve uma necessidade cada vez maior de sofisticar a narrativa. Nesse contexto, a integração entre RIG e comunicação na prática do advocacy contribui para colocar os temas relevantes em pauta na mídia. Provocar o debate na sociedade traz maior conforto para a tomada de decisões”. Diversas organizações, tanto do setor privado quanto de associações e entidades de classe, passaram por essa transição. Destas, duas se destacam: a Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), focada em temas estratégicos para a formulação de políticas públicas e marcos regulatórios, e o Instituto de Relações Governamentais (IRelGov), primeiro think tank de relações governamentais no Brasil, fundado em 2014, com o propósito de produzir e difundir conhecimento sobre relações governamentais e políticas públicas com foco na profissionalização da atividade, no aperfeiçoamento das relações público-privado, na promoção de boas práticas regulatórias e no debate de políticas públicas horizontais. Na esteira da atuação das entidades de classe, empresas de grande porte, que historicamente dependiam apenas de canais informais de influência, começaram a investir em departamentos de relações institucionais estruturados, capazes de planejar, executar e monitorar ações de advocacy. Esses setores passaram a adotar métodos de análise de dados, monitoramento legislativo e formação de coalizões com outros agentes interessados na mesma pauta. Grazielle Parenti: “Ao analisar a matriz de risco de uma organização, é evidente que muitos riscos significativos estão sob a responsabilidade da área de relações governamentais. Esses riscos incluem questões tributárias, regulatórias e econômicas”
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