Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 259 A história da comunicação e das relações institucionais e governamentais (RIG) no Brasil foi forjada a partir de um caminho de convergência no qual a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) tem um protagonismo fundamental. “As relações com stakeholders, relações institucionais e governamentais integram o que chamamos de Ciências Sociais Aplicadas, são interfaces da comunicação”, explica Paulo Nassar, presidente da entidade e professor-titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Segundo ele, a Aberje tem desempenhado ao longo de mais de 50 anos um papel pioneiro na construção desse caminho de convergência. “É muito importante que as áreas de interface se integrem organicamente e com excelência”, afirma. Veja a seguir trechos da entrevista concedida por Nassar ao Anuário da Comunicação Corporativa. Política de Portas Abertas – a comunicação organizacional começa a liderar a narrativa – “O tema das relações institucionais e governamentais está na Aberje desde o período que antecede a transição democrática no Brasil. O chamado período da distensão, nos anos 1980, em que se dá a discussão sobre a anistia e a transição para a democracia, é marcado por uma grande discussão dentro da Aberje sobre uma expressão chamada ’Política de Portas Abertas’. Vou fazer aqui um recorte em duas empresas que foram importantes nessa discussão, a 3M e a Rhodia. As duas publicam, ao mesmo tempo, em meados dos anos 1980, duas cartilhas sobre comunicação organizacional. A da Rhodia era um documento com umas 40 páginas, chamado de Plano de Comunicação. A da 3M trazia os pontos principais de como deveriam ser os posicionamentos da empresa naquele momento de transição. Os dois apontam que era chegado o momento em que as empresas tinham de se posicionar. Ou seja, você tem uma área comunicacional falando, assumindo a liderança do tema. Eram jornalistas tratando do assunto, não alguém de relações com o governo, porque essa área surgiu institucionalmente mais tarde.” Do “nada a declarar” para a necessidade de se conectar com os públicos de interesse – “Nos anos 1970, os anos de chumbo, não existe diálogo. As empresas estabelecem relações com o mercado a partir de seus produtos. Nos anos 1980, à medida que começa o processo de abertura democrática do País, em que você começa a ter organizações políticas e sindicais mais fortes, uma sociedade civil mais organizada, a figura do comunicador começa a aparecer. Porque a empresa não vai falar mais só de relações trabalhistas. Ela vai começar a ter que discutir questões complexas, com um social mais abrangente, de abrangência muitas vezes internacional. Não é por acaso que a Rhodia traz o tema. O que ela diz é que não se pode mais negociar questões ligadas a uma nova fábrica e outras questões ligadas ao mundo do trabalho apenas entre quatro paredes. E a empresa faz esse movimento de trazer uma pauta mais ampla, entendendo que tem um grande passivo ambiental na área de Cubatão. Esse movimento na época era liderado por um grupo de História da comunicação e RIG é construída em um caminho de convergência Paulo Nassar: “Nos anos 1980, à medida que começa o processo de abertura democrática do País, em que você começa a ter organizações políticas e sindicais mais fortes, uma sociedade civil mais organizada, a figura do comunicador começa a aparecer”
RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0Njk=