Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025

Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 267 cado, como lembrou Fernanda Lara, também criou um ambiente ideal para o surgimento de diversas publicações nativas digitais, muitas delas sem uma curadoria jornalística por trás. São páginas criadas por pessoas que não só entenderam como funciona o jogo da audiência, mas também souberam lucrar com os programas de recompensas e monetização da própria plataforma. E ainda que os valores pagos não fossem suficientes para recompensar efetivamente as publicações mais tradicionais, com suas equipes bem estruturadas, para essas páginas, com processos de publicação automatizados, eram mais do que suficientes. “Publicar em veículos que apenas replicam press releases, sem curadoria ou credibilidade jornalística, pode não ser a melhor estratégia para muitas empresas”, alerta Carla Meneghini, da Truly. “No entanto, para organizações que priorizam volume e precisam demonstrar crescimento interno, essas plataformas podem ser úteis. Ainda assim, é essencial que os clientes compreendam que presença midiática de qualidade exige estratégia e direcionamento. É preciso alinhar expectativas, evitando a pressão por metas irreais de volume de matérias. O trabalho de assessoria não deve ser medido apenas pela quantidade de publicações, mas pela qualidade e pelo impacto da exposição na reputação da marca”. “Esse tipo de prática distorce completamente a percepção de resultado. Gera volume, mas não gera valor”, acrescenta Bia Azevedo, da Marqueterie. “Quando se prioriza quantidade em detrimento da credibilidade, o maior prejudicado é a marca e, por consequência, a própria atividade de assessoria. Nosso papel é educar o cliente para entender o que de fato importa: visibilidade qualificada, alinhada com o posicionamento da marca. Defender a qualidade virou uma postura ética e necessária no nosso mercado”. Mas a falta de qualidade não é o único problema dessas publicações. Em uma realidade política polarizada, muitas dessas páginas se transformaram em um ambiente perfeito para atender a interesses políticos e para a proliferação de notícias falsas. Misturando conteúdos de agências de notícias, press releases e notícias enviesadas ou falsas, elas enganam os leitores mais desavisados, que acreditam que tudo ali é real. Em um artigo publicado em 2019, o jornalista estadunidense Matt DeRienzo classificou essa prática como pink slime, uma espécie de subproduto processado de carne que, apesar de parecer nutritivo, é criticado por sua qualidade duvidosa. Naquele caso, DeRienzo usou a expressão para descrever “a proliferação de sites de ‘notícias locais’ que produzem conteúdos de baixa qualidade, muitas vezes automatizados ou tendenciosos, mascarando-se como jornalismo legítimo”. Em artigo sobre o tema publicado no linkedin, Fernanda Lara destacou a necessidade de o mercado fazer uma autorreflexão sobre o impacto de nutrir essa rede de baixa qualidade em prol de uma entrega de curto prazo para o cliente: “Estamos prejudicando a percepção das pessoas sobre o jornalismo, pois elas não sabem diferenciar o jornalismo Tier 1 ou Tier 2 de pink slime. E como o volume de portais sem proposta editorial não para de crescer, a reputação do Priscilla Caetano: “A pressão por menções na mídia, priorizando a quantidade em detrimento da qualidade, gera como resultado uma estratégia inflada, que prejudica a reputação do cliente e enfraquece o próprio valor da assessoria”

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