Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 285 Juanca tem uma visão interessante sobre a comunicação brasileira: “Tendo observado pelo lado de fora, e tendo vivido por dentro o setor trabalhando presencialmente no Brasil, para mim ficou claro que os brasileiros são mesmo muito competitivos, falam vários idiomas. E essa vantagem competitiva naturalmente se dá pelo tamanho do país, que por si só já é um continente, com todas as suas diferenças regionais internas. Os números todos são superlativos, quando comparados com os países vizinhos. Uma grande empresa no Brasil não é a mesma coisa que uma grande empresa na Colômbia, por exemplo. Isso significa que o profissional brasileiro por natureza já se desenvolve com uma capacidade diferenciada de pensar e agir em contextos amplos e complexos, multiculturais, multirregionais”. Mas viver na metrópole paulistana também derrubou alguns estereótipos: “Todo mundo sabe que o brasileiro é visto como aquele povo festeiro, acolhedor, alegre o tempo todo. Não sei se talvez por ter vivido em São Paulo, mas ficou claro que, pelo menos no mundo corporativo, não é assim. O comunicador brasileiro é extremamente profissional, objetivo, pensa no trabalho o tempo inteiro, buscando sempre mais eficiência e o melhor resultado para os negócios. Não há muito espaço para brincadeiras. Eu mesmo não tive oportunidade de fazer amizades mais consolidadas morando em São Paulo, é difícil para um profissional estrangeiro entrar no mercado do País. E, apesar de tudo, ainda falta um pouco ao brasileiro o desejo de compreender com mais profundidade outros mercados locais na latam”. Essa visão em particular é compartilhada pelo consultor mexicano Javier Flores, que foi diretor de contas em grandes agências como Hill & Knowlton e JeffreyGroup para marcas regionais, além de ter sido cliente, atuando como gerente de Comunicação Externa América Latina na Ericsson, a partir da Cidade do México: “Eu me reportava para uma pessoa no Brasil, estive muitas vezes em São Paulo e aprendi muito. Minha percepção é que, para um profissional brasileiro liderar latam, ajuda muito falar espanhol e entender bem a importância de cada localidade, pois a execução das estratégias no fim das contas é sempre local”. No caso do México, mais do que isso. O mercado mexicano de comunicação corporativa e relações públicas é muito similar ao brasileiro. “Por outro lado, a conjuntura político-econômica aqui impacta muito mais as atividades de RP do que no Brasil. As relações corporativas, institucionais e empresariais ganham outras dimensões que precisam ser bem compreendidas”, diz Javier. Um dos mercados para comunicação que mais tem se desenvolvido e se destacado nos últimos anos é o Chile, cujo avanço acompanhou o próprio perfil de relativa estabilidade socioeconômica, trazendo à tona variados perfis de consumidores para diferentes indústrias. A capital, Santiago, consolida-se como um centro financeiro alternativo na América Latina, inclusive com um novo e moderno bairro apelidado de Sanhattan, em alusão a Manhattan, de Nova York. É a Faria Lima da cidade, para fazer uma referência mais próxima. Tudo isso crescendo em torno dos setores pelos quais o Chile já é reconhecido desde há muito tempo: turismo (ah, o vinho chileno...) e mineração/energia. E foi por esse caminho que o jornalista Gustavo Orellana teve seu primeiro contato com a comunicação corporativa do Brasil. Depois de cobrir o segmento energético nos principais jornais do país – El Mercurio, Diario Financiero, Pulso e La Tercera –, Orellana participou de projetos integrados de comunicação corporativa da Enel: “Ali aprendi que os brasileiros tinham muito mais estruturas para comunicação corporativa que os chilenos. As relações públicas de vocês se desenvolveram muito antes, e já eram muito mais avançadas em termos de mensagens, conteúdo, ferramentas e criatividade”. O que parece estar mudando. As comunicações – e o modo como os chilenos consomem comunicação e são impactados – estão em plena transformação, abrindo oportunidades para marcas interessadas naquele mercado. Orellana, que saiu das redações e atualmente é diretor de Contas na agência Parla, deixa algumas dicas para os colegas brasileiros: “Antigamente, tudo no Chile se fazia na base do contato direto. Não se pensava nesse nível de profissionalização das relações públicas. Com o desenvolvimento da economia, muitos grupos familiares foram crescendo e se consolidando em múltiplos negócios e, com isso, o mercado de comunicação corporativa se expandiu, por uma necessidade ampla de construção de reputação. As agências trouxeram muitos jornalistas especialistas em seus respectivos setores (fenômeno conhecido no Brasil). Há uma mudança profunda com a digitalização e o alcance das comunicações. Antes, praticamente apenas El Mercurio e La Tercera pautavam a opinião pública. Hoje não é mais assim”.
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