Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025

Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 320 TECNOLOGIA O empreendedor britânico de IA Mustafá Suleyman, CEO da Microsoft AI, aborda em seu livro o impasse que envolve a IA: “Desde o início, ficou claro para mim que a IA seria uma ferramenta poderosa para um bem extraordinário, mas, como a maioria das formas de poder, também repleta de imensos perigos e dilemas éticos”. E continua: “Ficou claro que se nós ou outros tivéssemos sucesso em replicar a inteligência humana, isso não seria apenas um negócio lucrativo como sempre, mas uma mudança radical para a humanidade, inaugurando uma era em que oportunidades sem precedentes seriam acompanhadas por riscos sem precedentes” (página 34). Suleyman tem se manifestado sobre a necessidade de responsabilizar os tecnólogos pelo impacto do seu trabalho. A ameaça é real. “Existem modelos de linguagem que são mais suscetíveis à construção de conteúdo tóxico. Eu quero que ele se negue a gerar determinados conteúdos, mas, infelizmente, ele não tem o que a gente chama de guardrails, que os impede de sair da estrada. Estamos falando de conteúdo de grupos terroristas, para persuasão de grupos frágeis, para sedução de menores, conteúdo racista, conteúdo para desinformação científica. Então, é o que há de pior. E a gente não quer que a IA seja uma alavanca na criação desse tipo de coisa. É um desserviço completo para a humanidade”, diz Magno Maciel, especialista em IA e que faz consultoria a empresas de diversos segmentos, inclusive agências de comunicação, como a Fato Relevante, e até para cantores e músicos interessados em melhorar o repertório com a IA. “Eu realmente acho que nós deveríamos, como sociedade, discutir mais essas questões, porque, no final da história, são as pessoas nesse contexto”, completa Maciel. Na opinião de Marcos Facó, diretor de Comunicação e Marketing da Fundação Getulio Vargas (FGV), a IA pode incentivar o crescimento de uma indústria de segurança, para combater a desinformação: “As plataformas devem começar a combater esse tipo de conteúdo, contratando programadores, profissionais para fazerem o monitoramento. Devem surgir empresas que vão realizar filtros e constituirão centros de excelência, dizendo ‘aqui você pode confiar porque nós já fizemos o monitoramento do conteúdo’. Não está claro como isso vai acontecer, mas acredito que, da mesma maneira que a inteligência artificial vai criar profissões, ela destruirá algumas outras, que vão migrar para questões que surgirão, para outras necessidades. E é aí que eu acho que o mundo profissional, pelo menos o da comunicação, no qual estou inserido, vai sofrer uma grande modificação”. O novo formato de busca em ambiente online parece influenciar o pensamento crítico. Agora, recebemos textos no lugar de links (patrocinados). Não há opção? “O critério de escolha de liberdade do usuário vai ser entregue ao OpenAI ou ao DeepSeek. Vamos acabar ficando na mão de megaplataformas de inteligência artificial, que vão tomar as decisões por nós”, diz Facó. “O grande desafio no futuro está em saber se vamos deixar de navegar na internet para fazer Magno Maciel: “O ser humano é indelével nessa história e, por mais paradoxal que pareça, quanto mais a IA evolui, mais nobre se torna o nosso papel. O carimbo do ser humano agora vale ouro”

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