Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 323 formativo produzido por jornalistas profissionais. Hoje o conteúdo é feito por qualquer pessoa que tem celular. A pessoa filma um acidente e esse vídeo está postado. O caso da passageira que não cedeu o lugar para uma criança no avião viralizou muito mais que muitos jornais cujo conteúdo é produzido por jornalistas. Vemos blogs de profissionais que não são jornalistas, mas conseguem se expressar e têm um conteúdo interessante. Tenho um professor aqui na área de relações internacionais, Oliver Stunkel, que está em Harvard, e faz post diário no tiktok e no instagram, falando sobre a conjuntura geopolítica. Tem grande penetração e com altíssima qualidade. E ele não tem formação nenhuma na área de jornalismo. Penso que o jornalismo será feito por outros profissionais com o auxílio da inteligência artificial”. Outra transformação grande apontada por Facó, com o avanço da IA, segue o arranjo geopolítico e a formação de grandes grupos empresariais, com altíssima concentração de poder: “Amanhã a Open AI pode se juntar com a Amazon, ou a Amazon pode comprar a Open AI. Teremos a junção de um marketplace de comércio mundial aliado a uma plataforma de inteligência artificial, que vai centralizar um poder enorme. E os vendedores que estão dentro dessas plataformas vão depender quase única e exclusivamente da comunicação delas. Então, a empresa que vende o seu produto numa Amazon vai ficar cada vez mais dependente dela, que vai ficar cada vez mais poderosa e detentora de todo processo de comunicação. Diante disso, é irrelevante a comunicação de uma pequena empresa brasileira. Eu tenho lido que há uma tendência ainda dessas plataformas começarem a também fazer o papel de redes sociais. Há uma junção cada vez mais poderosa”. O diretor de Comunicação e Marketing da FGV também aponta o distanciamento entre agências grandes e pequenas como um dos impactos da inteligência artificial: “Uma empresa de comunicação pequena não vai ter condição de competir com uma empresa que possa fazer investimentos altos em inteligência artificial. A tendência é uma junção de empresas grandes, como já está acontecendo na área de comunicação e propaganda. Esse movimento passa também pela área de RP. Assistimos à consolidação de grandes grupos em vários segmentos. O setor de ensino tem uma consolidação enorme. É uma tendência dos novos tempos”. O avanço da IA impacta ainda a amplitude entre as classes sociais. “As pessoas que têm formação de nível superior e uma pós-formação terão mais conhecimento e poder socioeconômico, em detrimento de uma população que não consegue ter acesso a essas inteligências artificiais, que não tem condições de usá-las”, diz Facó. “Essas pessoas vão ficar cada vez mais fragilizadas. O distanciamento entre as classes sociais aumenta. “E essas pessoas vão ficar cada vez mais fragilizadas em detrimento das outras”. A boa notícia é que as agências brasileiras, entrevistadas para esta reportagem, estão atentas às questões sensíveis da IA e preparam suas equipes para a virada digital. “O ser humano é indelével nessa história e, por mais paradoxal que pareça, quanto mais a IA evolui, mais nobre se torna o nosso papel. O carimbo do ser humano agora vale ouro”, diz Maciel.
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