Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2025 93 Itacir Figueiredo Júnior, sócio-fundador da Oboé Comunicação Corporativa Inteligência sem discurso artificial Pensei em escrever um artigo sem usar a expressão “inteligência artificial”. Mas, para não parecer um conteúdo defasado, aí está ela já na primeira frase. Brincadeiras à parte, é evidente que a tecnologia já impactou de forma decisiva o nosso dia a dia e continuará promovendo mudanças ainda mais aceleradas e profundas nas rotinas de todos, incluindo das agências de comunicação. Mas, para além da otimização do tempo, da capacidade de gerarmos imagens, vídeos, conteúdos, relatórios e de lidarmos com dados com mais velocidade e precisão, temos que estar atentos ao valor do que está sendo construído, quando falamos da relação entre marcas e seus públicos. Há alguns meses, a nata da tecnologia reunida em Austin, durante o SXSW, mostrou grande preocupação com a saúde social dos indivíduos e com a epidemia de solidão causada pelos algoritmos. De acordo com esses especialistas, estamos vivendo cada vez mais em bolhas, refratários ao convívio com as diferenças, um cenário muito distinto daquele imaginado nos primórdios das redes sociais. O avanço das ferramentas de IA, sem dúvida, traz benefícios importantes e a perspectiva é ainda mais promissora quando olhamos para o futuro. No entanto, simplesmente delegar e confiar cegamente no uso das plataformas pode ser um risco para a comunicação das empresas, sem a atenção necessária à autenticidade do diálogo travado com a sociedade. Palavras vazias, em busca de engajamento fácil, podem limitar o acesso a novas audiências, em um mundo que clama por mais diversidade e inclusão – apesar de escolhas em contrário feitas por governos e (vejam só) big techs detentoras da tecnologia. Para fazer frente a esse desafio, as marcas precisam assumir a responsabilidade sobre a qualidade do que levam aos seus públicos. E as agências devem pautar a sua atuação como parceiras desse trabalho, atuando na criação de um conteúdo relevante, verdadeiro e realmente inteligente. Equipes diversas, multidisciplinares, empáticas e conscientes desse desafio podem ajudar a bloquear regressões em D&I e alterar a rota que tomamos em direção a uma crise climática sem retorno, às vésperas da realização da COP30. Nesses aspectos, a qualidade do discurso está diretamente relacionada à prática, com uma governança e uma ética que vêm antes da comunicação. Precisamos ser capazes de navegar entre incertezas e entender cenários complexos, tendo como meta a saúde dos relacionamentos. Esse é um ponto importante a ser considerado na capacitação das equipes, tanto quanto os treinamentos para entender como a última tecnologia pode ser aplicada de forma criativa em nosso trabalho. Inteligência, sim; mas sem discurso artificial.
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