Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

118 Um ano marcado por aquilo que não foi S e há aprendizado possível de ser extraído de 2020 é esse: não existem lições eternas. Certezas, pla- nejamentos, regras, leis, constantes – esqueça- mos tudo isso. Nada é mais inexorável do que a imper- manência; e isso já representa um paradigma em si. Quem ainda não se questionou so- bre como será a humanidade após a pandemia que nos assola? Os ânimos parecem trafegar entre reflexões oti- mistas, que falam do renascer de uma nova humanidade, e o medo brutal perante todas as incertezas que reco - brem as diferentes esferas da vida. Na ânsia de compreender este contexto e encon- trar respostas que apaziguem a sensação angustiante de falta de controle muito se tem falado. Não à toa es- tamos vendo emergir o mais novo fenômeno do mo - mento: as Lives . Nós da 4CO optamos por escutar mais e falar me - nos: fomos a campo para analisar como uma temáti - ca social está impactando o ambiente organizacional a partir da perspectiva dos trabalhadores, como fize- mos investigando o whatsapp na co - municação interna (2015), a gestão da Diversidade (2017) e o sofrimento psí- quico no trabalho (2019). R e a l i z a m o s , então, a pesquisa Trabalho Remoto e Isolamento Social ; a primeira de uma sé - rie de investigações que jogarão luz so- bre esse tema, pois pretende acompa - nhar as alterações na topografia da relação de trabalho daqueles que ade - rem, circunstancial- mente ou não, a tal modalidade. Antes dessa investigação percebíamos que tal mo- dalidade de ocupação era praticada apenas em poucas atividades e funções, além de estar circunscrita em um paradigma – o da produtividade. Percebíamos que sua adoção, em maior ou menor grau, enfrentava, do lado das organizações, uma dupla resistência: a primeira, simbólica frente à perda do controle sobre o trabalha - dor e sua produção; e a segunda, pragmática, devido à necessidade prévia de investimentos massivos em in - fraestrutura adequada para tal. Do lado do trabalhador, as angústias relacionavam- -se com a questão do tempo: como se organizar numa rotina que é, por princípio, mais flexível em relação à carga horária padrão da jornada de trabalho? Será que a liberdade em relação ao horário de trabalho se tra - duziria em maior liberdade de tempo – e, consequentemente, qualidade de vida – ou configuraria uma forma de exploração ainda maior? Agora, ao menos por ora, sabemos um pouquinho a mais: a prática que vem sendo feita nesta modalidade é satisfatória, mas está muito longe do imaginário rela- tivo ao potencial trabalho remoto. O que isso significa? Que há um enorme campo a ser descoberto e aperfei- çoado. Que empregadores e empregados podem – se assim desejarem! – atuar juntos no manejo da cultura organizacional para que tal tecido simbólico possa se - mear um ambiente em que esta modalidade de traba - lho frutifique. O futuro do tra - balho está se de - senhando. Não dá para ter certezas. Mas é possível partir de premissas. O tra- balho remoto é uma prática que tem pro - funda relação com a construção de mar - cas empregadoras fortes: organizações pautadas pelo diálo - go, pela confiança e por um claro propó - sito. Todas essas di- mensões permeiam a experiência de quem trabalha num modelo mais flexível como este. Apesar disso tudo, a gente não vai arriscar palpite futuro nenhum. A única certeza que temos, pois ela compete exclusivamente ao nosso micro-universo, é a de que estamos abertos a pensar sobre tudo isso jun- to com vocês (clientes, mercado, empregados, parcei- ros... enfim, quem quiser). Temos convicção de que é coletivamente que as melhores respostas se dão e, as- sim, as melhores soluções podem ser implementadas. Quem topa? Bruno Carramenha e Thatiana Cappellano Sócios-fundadores da 4CO | Cappellano e Carramenha Comunicação e Cultura Organizacional

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