Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

122 Orientações globais e decisões locais: a tendência é regionalização N ão, não há ainda um “novo normal” a seguir. O que há é uma série de medidas e adapta - ções que vão sendo feitas enquanto a crise vai se desenrolando. Tudo está em construção, porém sem a certeza de quais são os pilares dessa obra. A verdade é que o mercado da comunicação já estava mudando antes dessa pandemia que vivemos. Com a crise, as ações e resoluções tor- naram-se mais velozes. Insanamen- te velozes. O Google utiliza uma expressão interessante quando orienta as tomadas de decisão com relação à Covid-19: “orientações globais, decisões locais”.  Assim como a pandemia se comporta de forma dife - rente em várias localidades, a comunicação também tem suas particularidades. O processo de regionaliza- ção é, então, fundamental.  Por muito tempo, haverá menos reuniões presenciais, menos viagens a trabalho e mais personalização na comunicação.  Vislumbra-se o crescimento dos mercados locais, de todas as agências que produzem conteúdo em seus estados, com uma linguagem mais próxima do públi- co. Não é raro ver aqui no Nordeste uma propaganda na TV que inclua um trio de forrozeiros, mesmo que nem seja São João, como se tudo aqui fosse voltado para o forró. O objetivo da mensagem não é alcança- do, pois nem todos se identificam com esse tipo de abordagem. Foge à nossa realidade, reforçando uma visão caricata, que é tudo o que não queremos.  Parcerias estão sendo formadas e novas oportunida- des seguem surgindo. É possível que algumas leis tra- balhistas sejam flexibilizadas, dando mais fôlego para contratações por parte das agências. Os profissionais aprenderam a trabalhar em home office e talvez não mais faça sentido o encaixotamento da atividade se- guindo regras de 8h às 18h, com intervalo de duas horas de almoço. Esse modelo já era questionado há muito tempo, especialmente quando as pessoas vão sendo movidas por objetivos temporais, sem vi- sar carreiras eternas. Aqui a discussão é grande, mas o importante a saber é: ainda estamos sob efeito do freio de arrumação. Nesse freio de arrumação, o que já foi o quarto poder hoje disputa a credibilidade com cidadãos comuns, que nem sempre (ou quase nunca) têm o compromis- so com a verdade ou a variedade de opiniões sobre um mesmo assunto. O público tem dificuldades ou não quer separar o joio do trigo. Precisamos conside- rar nas estratégias de comunicação o whatsapp, que virou o laboratório do diabo. É através dele que mui- ta gente se “atualiza”. Notícias falsas, difamações, meias verdades e muita agressividade são os ingre - dientes de muitas dessas mensagens. Por outro lado, o whats também possibilita a disseminação de infor - mações sobre atividades de empresas e profissionais que dificilmente encontrariam espaço nos veículos comerciais.  A produção de conteúdo especifi- camente para whatsapp é um dos recentes serviços oferecidos pelas agências. E por mais que a ferramen- ta seja global, a disseminação de in- formações também pode obedecer ao critério proximidade da notícia. Há mensagens que só fazem sentido em determinadas regiões. E esse é mais um argumento em favor da regionalização da co - municação, até mesmo como prevenção a crises de reputação. Por falar nisso, nunca as agências gerenciaram tantas crises. E elas aparecem em todas as esferas. Vale, en- tão, a estratégia do Google: tenha um fio condutor, tenha princípios e estratégias. Mas considere as ca- racterísticas culturais e de comunicação de cada re- gião. O tal novo normal daí pode não ser o novo nor- mal daqui. Ana Lima Diretora da Brava Comunicação

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