Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

127 Esteja preparado para a próxima crise Altair Albuquerque Jornalista e diretor do Grupo Texto de Comunicação S e há uma certeza, é que haverá novas crises pela frente. Podem ser de imagem ou de reputação, en- volvendo produtos, serviços, governos ou pessoas. Mas elas estarão lá na frente. O mais recente tsunami global nos dá muitas lições incríveis para enfrentar uma crise. Vimos empresas, entidades e pessoas aproveitando a pandemia para se posicionar, ser proativas, inovar e, assim, melhorar (ou recuperar) sua imagem perante a opinião pública. A boa notícia é que essa estratégia funciona. No passado, superar uma crise era mais fácil. Não importava sua dimensão, ela passava. E rápido. Não havia o mun- do digital para vigiar. Agora, as crises prolongam-se. As novas gerações têm um poder de perseguição que ou- tras não tiveram. Os milleniuns realmente são mais per - sistentes em suas causas. E isso é bom, pois exige que as organizações, os go- vernos e as pessoas mantenham a guarda alta. Sempre. Crescemos ouvindo políticos dizerem que roubam mas fazem, empresas mudando a razão social para se tor- narem invisíveis no radar da crítica, pessoas que mudam de opinião para se tornaremmais aceitas. Tudo em prol da boa imagem, da retomada depois da crise. Amá notícia é que a regra do jogo é outra. A imagem, a reputação, têm de ser cultivadas sempre. Ao menor deslize, esse trabalho pode ser comprometido – às ve- zes sem possibilidade de reversão. E isso é ótimo, na verdade. Ainda é cedo para dizer se quemnão seguiu normas de compliance no passado con - seguirá recuperar sua imagem. Mas as evidências mostram que sim. Porém, esta pode ser a última vez que fazem isso, já que são mais vigia- dos do que nunca pelos novos e poten - tes consumidores e cidadãos. A lição também tem de ser apren - dida pelas empresas de comunicação corporativa, chamadas a atuar emmo- mentos de crise para preservar e/ou recuperar a imagem dos seus clientes. Diz-se que fazer o beabá na comu- nicação corporativa todo mundo faz e que se separam os homens dos meni - nos em situação de crise. E é mesmo. Crise é um caso todo particular. Ao mesmo tempo em que há uma cartilha a ser utilizada para estancar a mancha, é preciso lançar mão de estratégias es - pecíficas, pois crise merece tratamen- to diferente. Nesse sentido, foi bonito ver a atu- ação de algumas empresas na pandemia. Organizações privadas e públicas lançarammão de ideias positivas, as- sumiram a vanguarda da corrente do bem e mostraram - -se menos gananciosas e mais humanas. Deu resultado. Parabéns aos envolvidos. A questão de 1 bilhão de dólares é saber o que vem pela frente. Como será a comunicação pós-pandemia. Há muitas teorias circulando. Sou cético em relação ao otimismo exagerado. Há quem fale de uma nova civi- lização, que cultua regras diferentes, de supervalorização das relações entre as pessoas. Desculpe, não consigo ver isso com tanta clareza. Não dá para perder a per- cepção do capitalismo feroz. Também não sou pessimista. Boas lições ficarão para a sociedade e para omundo da comunicação corporativa. O fato é que nunca a agilidade e a criatividade foram tão importantes para fortalecer a imagem dos nossos clientes. Isso eu acho que será cada vez mais relevante. Uma lição que fica: as agências de comunicação pre- cisam descer do pedestal e ouvir seus clientes, o público dos seus clientes e a sociedade. Está provado que há muito o que fazer em termos de imagem. Foi só ficar em casa algumas semanas para a criatividade aflorar. Equipes em home office nunca fo - ram tão produtivas. O negócio da comunicação tem uma vantagem incon - testável diante de outros setores. Podemos fazer o nosso trabalho onde quer que a gente esteja. A boa ideia surge assim. Em qualquer lugar, em qual- quer momento. Foi isso o que aconteceu nos últimos meses. Talvez pela razão errada, mas aconteceu. E temde ser brindado. A revolução tambémocorreu nos ve - ículos de comunicação. Os sérios (tradi- cionais ou novos), até então combalidos, voltaram a ser heróis. A comunicação corporativa cumpriu o seu papel com diversas estratégias, le- vando à imprensa ideias e iniciativas fan - tásticas. Foi um show. Porém, fica a lição. Voltaremos ao marasmo de estratégias pouco criativas e temas pouco relevantes? Ou vamos nos concentrar nos assuntos que real - mente importam – não somente para nossos clientes, mas para a sociedade – e lançar mão de estratégias criativas e vibrantes, que nos encham de orgulho como profissionais? Seja para melhorar ou fortalecer a imagemdos nossos clien - tes. Ou a nossa.

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