Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

133 Reflexões sobre a inteligência e o futuro É possível antecipar o futuro? Há dois anos me atrevi a lançar um livro sobre Inteligência An- tecipativa afirmando que sim. Hoje estou ainda mais convencido, isolado e cumprindo quarentena em home office assim como boa parte da humanidade. É próprio da dinâmica da sociedade moderna promover transformações e mudar os rumos com uma velocida- de imprevisível, acelerada pela tecnologia, pela inter- conectividade global e pelas vulnerabili - dades inerentes à globalização. A sociedade moderna dispõe hoje de ferramentas capazes de mensurar pra - ticamente tudo, desde as preferências individuais à mobilidade humana. O Big Data e a Inteligência Artificial, juntos, não conseguiram antecipar a Covid-19. Mas podem hoje indicar tendências e prever a evolu- ção e a mortalidade, baseados nos dados, bem como sugerir quais perfis humanos serão mais vulneráveis e o que a sociedade vai consumir nas próximas horas para se proteger. Os processos estruturados de atenção às infor - mações que circundam o ambiente constituem a in- teligência, atualmente indispensável à tomada de decisão de governos e executivos que buscam com ela superar seus desafios num cenário volátil, incerto, complexo e ambíguo. Essa inteligência, porém, é fun- damentada em ambientes atuais e retrospectivos que indicam, na sua interpretação, tendências. O salto qualitativo que a Inteligência Antecipativa sugere é o de recorrermos a uma análise mais acura - da das informações, baseada em sinais fragmentados que apresentam um potencial de informações estra- tégicas – os sinais fracos. São informações estratégi- cas relevantes, porém, por serem fracas, são fáceis de serem ignoradas. Os sinais fracos foram assim deno- minados pelo pai da gestão estratégica, Igor Ansoff, nascido na Rússia em 1918. Teria sido possível, com a Inteligência Antecipati- va, prever os ataques de 11 de setembro? Há indícios que sim, retratados em documentários e dados que indicaram claramente que os Estados Unidos tinham ciência de que um grupo ligado à Al Quaeda reunira-se na Indonésia, ingressara no país e estava aprenden- do a pilotar, mais precisamente em decolar e não em pousar. Um vídeo, que recebi há dias no whatsapp, veio acompanhado de uma pergunta original: Bill Ga- tes antecipou o futuro? A resposta é sim, ele juntou sinais fracos e “leu” a Covid-19. Para os que não viram, recomendo o link https://www.ted.com/talks/bill_ga- tes_the_next_outbreak_we_re_not_ready. Ao falar em uma conferência no TED, em março de 2015, ele entra com um galão simulando um artefato Paulo Andreoli Chairman MSL Latin America – Publicis Groupe nuclear e pergunta qual seria o maior risco de uma catástrofe global? E responde: não será uma bomba, mas um vírus. O desafio para as agências de comunicação cor- porativa, no meu modesto entendimento, está na capacidade de contribuir com as organizações a an- teciparem o futuro. Ninguém melhor do que nós, jor- nalistas, relações públicas, advogados, economistas, sociólogos que trabalham com informa - ção, para ler, interpretar, juntar, aferir, selecionar e identificar os sinais fracos. Com Inteligência Antecipativa e com nossas expertises, certamente seríamos potencialmente úteis no suporte à to- mada de decisões estratégicas junto aos nossos clientes privados e até governos. Nós, na MSL Andreoli, estamos engatinhando nes- sa direção. Não é uma tendência. É uma antecipação do futuro o qual, certamente, não será notado por ne- nhum Big Data . Mas será percebido por aqueles que, como Bill Gates, souberam ler os sinais fracos.

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